Desde o começo desse mês de julho que sou lembrada constantemente – seja por pessoas próximas ou pelas redes sociais – que dia 13 é o Dia Mundial do Rock. E minha reação sempre foi: “Ué, mas dia do rock não é todo dia? ”. Porque pra mim é! Pelo menos desde que comecei a ouvir esse estilo musical que nasceu da evolução do Rhythm and Blues e da música country – entre outros estilos –
lá nos anos 1950. 13 de julho foi instituído o Dia Mundial do Rock porque foi neste dia, lá em 1985, que aconteceu o Live Aid, um megaevento musical realizado simultaneamente nos Estados Unidos e na Inglaterra que tinha como objetivo chamar a atenção do mundo para a questão da fome na Etiópia. Mas apesar desse nome “mundial”, a data passa despercebida no resto do mundo e aparentemente só é celebrada no Brasil. E isso por quê? Bem, além de estratégia marketeira das brabas, eu tenho algumas teorias… Primeira, o Brasil demorou a reconhecer o Rock como um estilo musical relevante. Alguém lembra da marcha contra a guitarra elétrica em 1967 capitaneada por medalhões da MPB? Ridículo, pois é… Segunda, o Rock and Roll só estourou aqui mesmo no finalzinho da ditadura militar, entre o final dos anos 70 e começo dos 80. E antes que vocês me venham com “ah, mas tinha a Jovem Guarda”. Sim, eu sei, pequeno gafanhoto, eu reconheço a importância desse movimento para a cultura jovem da época, mas Roberto Carlos todo arrumadinho cantando na TV Record não está entre as imagens icônicas do rock pra mim. Eu cresci ouvindo Raul Seixas, Rita Lee, Legião Urbana e Tim Maia – este último, muito mais rock and roll do que muito jovenzinho com camiseta do Pink Floyd comprada na Renner. O Rock pra mim sempre foi sobre atitude, ter opiniões e sustentá-las, acreditar em si mesmo, ligar o foda-se quando precisa, fazer o que se gosta sem ligar para o que vão dizer. E aí vai a terceira teoria. O brasileiro em geral é um ser inerte. Daquele tipo que aceita tudo sem questionar. Que diz amém pra qualquer um com mais dinheiro. E isso nada tem que a ver com a atitude que eu vejo no rock and roll. O Rock sempre foi um estilo contestador – desde o Elvis balançando as cadeiras na televisão até o guitar hero politizado Tom Morello – e em nada combina com a vibe do “homem cordial”. É uma questão cultural mesmo. Mas eu consigo ver resquícios de rock nas coisas mais brasileiras. Tem coisa mais punk rock do que pegar três conduções, trabalhar o dia inteiro pra sustentar a família com um salário mínimo e ainda assim conseguir ter fé na vida? E o working class hero brasileiro segue sendo mais roqueiro que o Roger Moreira. Eu sempre entendi que o rock não era para todos. Não tem como ser. Ele não tem a pretensão de ser legal ou popular. Ele não pede explicações e não está aqui pra ser compreendido. Assim como são as melhores coisas. O mundo não liga para um dia mundial do Rock, nem eu! Você tem os 365 dias de um ano inteiro pra se revoltar, brigar, subir em palanques, levantar cartazes desaforados, fazer stories reclamando de algo… e ouvir rock and roll. Isso, se
for sua praia. Às vezes não é e tá tudo bem. Mas se for, eu tenho algumas recomendações pra hoje ou qualquer outro dia:
– Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (The Beatles)
– Led Zeppelin IV (Led Zeppelin)
– A Night At The Opera (Queen)
– Sticky Fingers (The Rolling Stones)
– The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (David Bowie)
– Wish you Were Here (Pink Floyd)
– Black Sabbath (Black Sabbath)
– London Calling (The Clash)
– Master of Puppets (Metallica)
– Nevermind (Nirvana)
Quanto a mim, eu vou ouvir meu Lynyrd Skynyrd sozinha e nem pensem em me desejar feliz dia do rock, por favor. Afinal, todo dia é dia de se ultrajar nesse país. Todo dia é dia de fazer a Revolução. Logo, todo dia é dia de Rock.